Um gestor de projetos é diferente de qualquer outro.
Afinal, ele precisa estar sempre adiantado e prevendo situações, enquanto o
gerente tradicional tem de dispensar atenção maior ao “aqui e agora”.
Além
disso, para entregar um projeto com qualidade, no prazo prometido e sem
estourar o orçamento — apontado como o maior desafio da carreira — é preciso
pensar em pelo menos nove dimensões, como as de estrutura financeira, gestão de
pessoas e avaliação de riscos.
Esse é o perfil da carreira de gerenciamento de projetos,
que não para de ganhar projeção no país. A demanda por esse profissional vem se
acentuando tanto que já se reflete na busca pelos cursos de MBA na área: tanto
na Fundação Getúlio Vargas quanto no Ibmec, é a qualificação mais procurada.
— Há cerca de cinco anos, o curso mais procurado era o de
gestão de negócios. Hoje, conforme as empresas trabalham mais de forma
projetizada, isso está mudando — destaca Fernando Filardi, professor do Ibmec.
Segundo pesquisa feita pela Michael Page, um gerente de
projetos pode ganhar, em média, de R$ 12 mil a R$ 20 mil por mês.
— Mas os valores podem chegar a mais do que isso, dependendo
da área de atuação e do tamanho do empreendimento em questão — ressalta André
Barcaui, PhD e coordenador do MBA sobre gerenciamento de projetos da FGV.
Em mercados mais maduros, como óleo e gás, engenharia e
tecnologia da informação, diz Barcaui, os salários costumam ser mais altos. Já
em segmentos que abraçaram o gerenciamento de projetos mais recentemente —
Terceiro Setor, esportes, cinema, comunicação e produção de eventos, por exemplo
— os ganhos ainda não atingem os mesmos patamares.
— Mas há uma tendência de equalização. O salário está em
fase de crescimento, porque a demanda está crescendo e os profissionais estão
se qualificando — acentua Barcaui.
Possibilidade de atuar em vários segmentos
Foi de olho nesse panorama que o profissional de TI Sergio
Couto decidiu se inscrever no MBA da FGV, em junho de 2012. Trabalhando numa
empresa de sustentabilidade, desde que iniciou o curso ele já pôde ampliar a sua
atuação.
— Não fico mais só nos projetos da minha área de
especialidade, que é TI. Já comecei a fazer projetos estratégicos da empresa —
conta Couto. — Era isso que buscava: ampliar o leque.
A possibilidade de conhecer diferentes áreas, aliás, é o que
muitos gestores apontam como sendo um dos principais atrativos da carreira.
Sandra Freitas, que é gerente de projetos, business systems & consulting na
consultoria CGI, relata que, nos últimos seis anos, trabalhou com
distribuidoras, companhias de energia elétrica, mercado financeiro, entre
outros setores:
— Atuar em negócios que não conheço me dá motivação para me
manter nesse ramo.
Victor Gialluise, superintendente de Projetos na Mongeral
Aegon desde 2007, diz que o que a atrai principalmente na carreira é a
possibilidade de assumir mais responsabilidades.
— Antes, eu me preocupava somente com o produto. Agora,
preciso pensar mais no escopo, na gestão dos recursos humanos do projeto, nos
riscos, entre outros aspectos.
Gialluise e Couto, aliás, fazem parte de uma nova leva de
profissionais que ainda não têm uma certificação (como PMI, PMP, CAPM, IPMA,
entre outras). Especialistas dizem que quando a carreira de gestor de projetos
chegou ao Brasil, há cerca de dez anos, houve uma explosão de procura por esses
tipos de diplomas. Hoje, eles não são mais pré-requisitos. Agora, o mercado
pede visão geral.
— Estão sobrando certificados, mas falta gente com o
entendimento real do seu papel. Não basta a qualificação técnica — destaca
Nubia Correia, diretora executiva de consultoria, que comanda uma equipe de
gerentes de projetos na Ernst & Young, acrescentando que esses
profissionais, acima de tudo, precisam saber se relacionar. — Pesquisas apontam
que o papel de um gerente de projetos está ligado de 80% a 90% do tempo à
comunicação.
Na Wärtsilä, fornecedora de motores e serviços para navios e
usinas termelétricas, há cerca de dez engenheiros fazendo o curso para tirar
uma certificação PMO em gerenciamento de projetos.
— São pessoas que estão capacitadas, mas não certificadas. A
certificação economiza etapas e mostra que o profissional domina os
procedimentos formais. Pro mercado pode ser importante, mas, para o cliente,
não é — opina George Wootton, gerente responsável pela área de elétrica e
automação da empresa. — Mas existem muitas pessoas que não têm a certificação
formal, mas são ótimos gerentes de projeto.
Nubia Correia, da Ernst & Young, lista como algumas
características que um bom profissional da área deve ter, além da capacidade de
comunicação, a habilidade de se relacionar com todos os stakeholders, reunir e
comandar uma equipe, ser disciplinado e organizado, ter visão holística e saber
gerir conflitos e conduzir uma negociação:
— Se ele não tiver isso, por mais que seja certificado e
entenda as ferramentas do mercado, provavelmente terá dificuldade para assumir
o seu papel.
Como é possível, então, aprimorar essas habilidades e não
investir apenas na qualificação técnica? Além de adquirir experiência atuando
na área, dizem os especialistas, uma opção pode ser passar por um processo de
aconselhamento — coaching — que é oferecido por algumas empresas a seus
profissionais. Investir em uma pós-graduação, antes mesmo de tentar tirar a
certificação, também é recomendado.
Oportunidades especialmente no Rio
— Um curso de pós-graduação ou MBA também trabalha a parte
emocional, aborda questões de liderança, tomada de decisão, habilidades de
comunicação, ensina a se portar diante de situações distintas — diz o professor
André Barcaui, da FGV. — Mas é realmente só trabalhando que se aprende a lidar
com pessoas.
Barcaui lembra que a atuação em gerenciamento de projetos
requer atualização constante, o que a carreira possibilita a quem estiver
interessado:
— É uma área muito rica, na qual acontecem feiras e
simpósios, nacionais e internacionais. É importante ficar ligado para se manter
atualizado.
Até porque, especialmente no Rio de Janeiro, continuarão
surgindo oportunidades para gerentes de projetos. O Comitê Rio 2016, por
exemplo, está com vagas abertas para especialista em projetos, analista de
projetos plenos, especialista em monitoramento de projetos, coordenação de
projetos e instalações — e foi relatada uma dificuldade para conseguir
preencher essas posições com gente qualificada.
— Não só Olimpíadas, mas também Copa do Mundo, Porto
Maravilha, e todas as outras obras urbanísticas que estão sendo realizadas são
projetizadas — destaca Fernando Filardi, do Ibmec.
O professor diz que, além dos grandes eventos, a tendência é
que todas as empresas passem a operar dessa forma dentro de algum tempo —
especialmente com a chegada de multinacionais e de expatriados ao Brasil, que
já desembarcam com essa mentalidade.
— Trabalhando de forma projetizada, é mais fácil ter
controle e saber se houve lucro ou não ao fim de um processo, por exemplo. Esse
é o caminho.
— O setor vai continuar abrindo cada vez mais vagas, tanto
no setor privado quanto no público — conclui Nubia.
Fonte: Matéria original publicada no site do O Globo.
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