Por Claudio da Costa,
Sabe quando alguém da sua família lhe pergunta com o que
você trabalha, você gentilmente responde que trabalha com gestão de projetos e
tenta explicar o que é isto, normalmente utilizamos termos usuais do nosso meio
profissional, assim como os advogados (Ex: Data Vênia), os médicos com seus
termos técnicos (Ex. Cefaléia), o pessoal de Informática com as suas siglas
(Ex. ERP, BI, CRM, ASP, SAAS, etc.) e outras profissões, cada qual utilizando
suas “gravatas” nas palavras para demonstrar que somos especialistas naquilo e
passar um pouco de poder, para não dizer uma pitada de arrogância. E quanto a preocupação de saber se quem
perguntou entendeu alguma coisa, deixa pra lá.
Como o pessoal é da família e a intimidade é maior,
normalmente recebemos o feedback assim: a tá, entendi! e fazem aquela expressão
que não entenderam nada e para não perder a amizade, mudam de assunto
rapidamente.
E na próxima festa ou confraternização da família a pergunta
volta a se repetir, e a mesma pessoa que já lhe perguntou pelo menos umas três
vezes, repete a pergunta: ei, fulano, você trabalha com o quê mesmo, estes dias
fui falar para um amigo e não lembrava mais, pode me explicar novamente? Ou quando o seu filho vem lhe perguntar
dizendo que tem que contar para os amigos no colégio com o quê você trabalha;
Ai você para, pensa e vê que a comunicação não está legal.
Pois é, depois de passar por estas situações algumas vezes,
e verificar que da forma que estava tentando me comunicar não estava
funcionando muito bem, resolvi pensar em situações reais que vivenciamos no
dia-a-dia para explicar os conceitos de gestão de projetos, evitando usar
“gravatas” nas palavras.
O que quero dizer com o termo “Gravatas” nas palavras é que
muitas vezes usamos uma linguagem usual do nosso meio profissional para
explicar coisas para pessoas que não são do mesmo ambiente, ou seja, a
linguagem e a forma não estão adequadas para o público que estamos transmitindo
a mensagem, fazendo com que a comunicação não fique na mesma sintonia.
Para conseguir explicar com o que trabalho, pensei no
exemplo abaixo para exemplificar o conceito de gestão de projetos que usamos
nas empresas, traduzindo para nossa vida pessoal.
Gestão de Projetos: Sabe aquela viagem de férias que você
está planejamento há um bom tempo para a Disney nos EUA, onde pretende ficar 10
dias conhecendo pelo menos 5 parques, ficar num Hotel da própria rede com a
família e tirar alguns dias de compras, pois é, isto é um projeto, por que?
- É temporário – tem início, meio e fim;
- A experiência vai ser única, mesmo que você volte outras vezes, nunca será a mesma coisa;
- Tem que definir o que se quer na viagem (qual tipo de hotel e padrão de qualidade, quantas pessoas irão viajar, que parques visitar, quanto tempo para cada atividade de lazer e compras, que lugares conhecer, etc. – Gestão do Escopo e do Tempo;
- Vai definir quanto pretende gastar na viagem – Gestão de Custo;
- Terá que pensar nos riscos desta viagem (Ex. E se alguém não conseguir o visto americano, quais os brinquedos mais perigosos para crianças para evitar acidentes, e se alguém ficar doente, o que fazer, etc.) – Gestão de Riscos;
- Qual a agência de viagem deve contratar, considerando o preço, serviços, atendimento e que lhe dê o suporte para qualquer imprevisto – Gestão de Aquisições;
- Quem da família irá na viagem e se alguém conhece o idioma inglês para facilitar a comunicação, caso não, como deverá se preparar para isto, fazendo aula particular ou um curso em alguma escola de idiomas, etc. – Gestão de Recursos Humanos;
- Qual a forma e meio que será utilizado para comunicar todas as informações da viagem, de forma que todos entendam claramente o seu papel neste projeto, evitando usar “gravatas” nesta comunicação – Gestão da Comunicação;
- Definir o padrão de qualidade que se espera durante a viagem, como por exemplo, qual a categoria do hotel (quantas estrelas), companhia aérea da viagem e tipo de classe do assento (Econômica, Executiva ou Primeira Classe), consulta a sites especializados para ver a pesquisa de satisfação de outros hospedes. – Gestão da Qualidade;
- E após todas estas definições, verificar se tudo que foi previsto e se espera na viagem está integrado e coerente com o planejamento do todo, pois não faz sentido dizer que se espera gastar USD 2.000,00 por pessoa neste projeto e planejar viajar em classe Executiva e ficar em hotel 5 estrelas, que irá gastar muito mais que o valor previsto – Gestão da Integração;
Quem já viajou sabe que devemos pensar em tudo isto que foi
colocado e em mais coisas ainda, e para que a viagem corra tudo bem e seja bem
proveitosa, sabe que este projeto de férias deve ser bem planejado para evitar
surpresas indesejáveis que podem estragar o passeio, antes, durante e depois da
viagem, quando chegar a fatura do cartão de crédito, por exemplo.
Pois é, se você já foi a pessoa responsável por cuidar de
todo este planejamento e gerenciar estas atividades para que tudo aconteça no
prazo, no orçamento e dentro das expectativas dos envolvidos, parabéns, você
foi o Gerente de Projeto deste projeto.
Podemos fazer a mesma analogia com o projeto para a
construção, compra ou reforma da casa, o projeto da Pós Graduação, o Projeto do
Intercâmbio de estudos, Projeto da Construção do Skate, Projeto da Reeducação
alimentar, etc.
Vejam que os projetos fazem parte da nossa vida pessoal
também, e se não forem gerenciados da forma adequada, podemos perder muito com
isto: tempo, dinheiro, saúde e até amigos em situações mais extremas (quem já
viajou em grupo sabe o que isto significa, alinhar as expectativas de todos não
é fácil, em gestão de projetos chamamos isto de gestão das partes interessadas
ou gestão de stakeholders, se preferir usar uma “gravata”).
Claudio Roberto da Costa Júnior é pós-graduado em
Processamento de Dados e possui mais de 20 anos de experiência profissional
participando em projetos de Consultoria Empresarial nas áreas de Manufatura,
Logística, Serviços e Comercial. É Sócio e Diretor de Negócios da Euax.
Fonte: www.baguete.com.br
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