Tenho visto um grande esforço das corporações em tentar
"educar" seus líderes para dar - e receber - feedback adequadamente.
Já está mais do que comprovado que promover um retorno constante às pessoas da
equipe em relação a seu desempenho, conduta ou a alguma atividade executada é
fundamental para reorientar ou estimular comportamentos futuros mais adequados
às necessidades da organização.
Mas também observo muitas empresas errando na hora de
abordar o feedback com as lideranças. Algumas estão apenas surfando na onda do
modismo, sem se preocupar genuinamente com os resultados. Outras, por falta de
conhecimento ou experiência dos gestores de RH, estão buscando alternativas
erradas.
Recebo constantemente convites para participar de workshops
de feedbacks nas empresas. O que eu tento explicar a quem me procura dessa
forma é que dar treinamento pura e simplesmente não resolve o problema. Notei que
muitas organizações achavam que estavam fazendo a sua parte oferecendo cursos
aos gestores. Porém, não se trata de uma questão mecânica ou técnica, mas sim
de relacionamento, cultura e atitude.
As pessoas esperam avidamente por serem avaliadas para se sentirem
seguras em relação aos próximos passos. É uma questão humana. Elas querem
conversar sobre a relação, se aprumar, saber se estão crescendo e se estão
atendendo ao que a empresa espera delas - mesmo que algumas ainda tenham
dificuldades em receber críticas.
A necessidade de feedback é como se fosse um grito pelo
relacionamento. O cenário é novo e, talvez por isso, ainda haja tantos
tropeços.
As gerações passadas simplesmente não estavam acostumadas a
dar ou receber feedbacks. A postura no ambiente corporativo era a de obedecer a
hierarquia e pronto. Mas hoje a situação é bem diferente, seja dentro ou fora
do trabalho. Por isso, mais do que estabelecer um processo formal de feedback,
as empresas precisam estar atentas sobre como estão promovendo o relacionamento
entre seus funcionários em todos os níveis. Devem ter consciência de que as
pessoas pedem e esperam receber um retorno sobre suas atitudes, comportamentos
e entregas.
Justamente por isso, o feedback - palavra em inglês cuja
tradução literal é "retroalimentação" - se tornou um ponto importante
para as empresas no que diz respeito à capacidade de reter e atrair pessoas.
Quando o funcionário é realmente ouvido e acredita que a empresa está sendo
transparente, mesmo quando recebe uma crítica construtiva, ele se sente
respeitado e valorizado. E isso não tem preço.
Pouco adianta promover campanhas de feedback formal uma ou
duas vezes ao ano se o processo não faz parte da cultura organizacional.
Infelizmente, isso ainda acontece em um número muito grande de empresas, apesar
de todas elas terem um discurso bem afinado da porta para fora.
A comunicação interna tem que ser sempre clara e sincera.
Determinadas questões técnicas ou comportamentais precisam ser pontuadas na
hora, e não seis meses depois, quando a empresa agendar o feedback formal. Se o
gestor aprende a avaliar os membros de sua equipe entendendo também as suas
expectativas, ele tem condições de administrar muito melhor o seu negócio. Já o
funcionário pode aprender e corrigir rapidamente a rota quando for preciso.
Sim, a formalização é importante. Registrar o feedback
significa assumir um compromisso claro entre as partes. Ajuda os gestores de RH
a entender melhor o ambiente e a registrar grandes movimentos. O olhar mais
distante também contribui para amarrar de forma mais precisa os objetivos e a
traçar rumos estratégicos. Mas o feedback não pode ser artificial.
Geralmente, profissionais que têm interesse pelo indivíduo
desempenham melhor feedbacks, porque naturalmente prestam atenção no comportamento
humano e nos relacionamentos. O desafio maior se dá com pessoas autocentradas,
com certo grau de arrogância, que se criaram sem limites e sem respeito pelo
outro. Ou para quem o fenômeno humano não tem interesse - o que é legítimo,
inclusive. Lamento apenas que, quem age dessa forma, perde a possibilidade de
estabelecer relações de maior profundidade na vida.
À medida que um profissional exercita com mais clareza essa
conversa sobre as relações, ele acaba estendendo uma abertura também para outras
esferas, como a própria família. Todos só têm a ganhar.
Artigo publicado no site do Valor Econômico: http://www.valor.com.br/carreira/2631070/feedback-e-um-meio-de-promover-relacionamentos
Sobre a autora: Vicky Bloch é professora da FGV, do MBA de recursos humanos
da FIA e fundadora da Vicky Bloch Associados
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