Exercer influência digital
Com empresas se tornando menos hierárquicas, o uso eficaz de
redes na internet será crucial para o sucesso.
Thomas H. Davenport e Bala Iyer
Dharmesh Shah, fundador e diretor de tecnologia da HubSpot,
uma firma de marketing na internet, tem uma impressionante rede online:
administra um grupo para empreendedores com 216 mil membros no LinkedIn, lidera
uma comunidade de perguntas e respostas para start-ups no Stack Overflow e tem
mais de 98 mil seguidores no Twitter. Mas ainda mais invejável do que a
dimensão da rede de Shah é como ele a usa. Há pouco, quando a HubSpot estava
contratando, Shah twittou sobre a busca de engenheiros qualificados pela
empresa. Rapidamente, recebeu o nome de centenas de candidatos, vários dos
quais acabou contratando. Em outra ocasião, enquanto penava com o programa para
um novo produto, pediu a ajuda dos seguidores na rede. Em questão de horas,
recebeu várias sugestões; uma pessoa acabou dando instruções para corrigir os
erros do programa.
A maioria dos executivos hoje sabe como usar ferramentas na
internet para montar e expandir sua rede. É fácil chegar a contatos do setor e
a colegas pelo LinkedIn e pelo Facebook, seguir e ser seguido no Twitter e
participar ativamente de iniciativas de mídia social da empresa. O que falta
entender melhor é como um gestor pode usar essas redes para colher informações
e exercer influência num local de trabalho cada vez mais interligado, mais
colaborativo e menos hierárquico. O exemplo de Shah é perfeito — e traz lições
que ajudarão até executivos de setores que não o de tecnologia.
Para montar uma rede eficaz no universo virtual é preciso se
concentrar, como Shah, em três coisas: reputação, especialização e posição na
rede. Assim como no mundo real, reputação é moeda de troca: é como você
convence gente que não o conhece a buscá-lo, a lhe dar informações e a
colaborar com você. Para estabelecer sua reputação no mundo virtual é preciso
oferecer conteúdo interessante, chamar atenção para sua presença na internet e
levar os outros a difundir e a pôr em prática suas ideias. Essa reputação pode
ser avaliada com serviços como Klout, Identified, PeerIndex e Empire Avenue,
que dão uma nota com base em quanta gente você influencia, quanta influência
você exerce e quão influentes são seus contatos. No Klout, Shah recebeu 80
(numa escala de 1 a 100).
Para turbinar a reputação e expandir a rede, indivíduos como
Shah, que circulam bem pela internet, fecham o foco em áreas cruciais de
especialização. No caso de Shah, tecnologia e empreendedorismo — temas centrais
em cada um de seus projetos na web. A sua pode ser vendas, ou RH, ou gestão de
organizações sem fins lucrativos. Vejamos o caso de Barry MacQuarrie, um
contador que montou uma comunidade no LinkedIn com o objetivo de entender como
mídias sociais podiam ser usadas em sua profissão.
Hoje, o grupo tem 1.800
usuários, que aconselham MacQuarrie sobre o tema. Potenciais clientes
encontraram MacQuarrie e sua empresa através do grupo. Especialização envolve
demonstrar profundo conhecimento, forjar vínculos com outros especialistas
(dentro e fora de sua organização), comprometer-se a aprender com eles e estar
disposto a oferecer informações relevantes e recomendações aos outros. O
Google+ e ferramentas similares permitem ao usuário criar “círculos” ou
comunidades com interesses comuns; o LinkedIn também está se fragmentando em
grupos de especialistas.
Embora foco seja importante, as melhores redes na internet
também se posicionam como ponte entre grupos até então desconectados. Isso pode
aumentar sua influência, pois lhe dá a chance de identificar potenciais
colaborações ou conflitos e acumular informações superiores. Shah, que se
formou pelo programa MIT Sloan Fellows, tem acesso às redes de alunos e
ex-alunos do MIT, bem como a sua rede de start-ups. Pode servir de ponte entre
empreendimentos de estudantes e investidores, ou entre start-ups e talentos — e
pode até achar oportunidades nas quais ele próprio gostaria de investir. O
LinkedIn Maps e o TouchGraph permitem que o usuário faça um análise visual de
suas redes para identificar contatos, clusters, densidade e redundância.
Uma pessoa que sabe usar suas redes usa contatos para obter
feedback rápido sobre toda sorte de desafio profissional — e até mesmo
soluções. Sabemos de um gerente em uma empresa de TI que se valeu da tecnologia
de rede social interna para solicitar referências de um fornecedor que estava
considerando. Descobriu que o sujeito fizera um trabalho mal feito num punhado
de projetos recentes e optou por não contratá-lo. Se sua rede for forte, você
está conectado a colegas, fornecedores, clientes e outros executivos bem
situados em seu campo — uma série de especialistas que podem ajudá-lo a
qualquer momento.
O desafio de Shah para eliminar as falhas do software lá
atrás é um exemplo. Considere, também, o caso de Michelle Lavoie, gerente da
comunidade empresarial da provedora de serviços de TI EMC, que usou seu blog
interno para enfrentar um problema ainda maior: como cortar custos durante a
crise financeira de 2008. “Constructive Ideas to Save Money”, seu post de
número 430 na rede, pedia uma trégua na chiadeira sobre uma alteração polêmica
na política de férias, dava cinco sugestões positivas e incentivava os colegas
a darem suas próprias ideias. Um ano e meio depois a mensagem fora visualizada
mais de 26 mil vezes e gerara 364 respostas com ideias para corte de custos,
muitas delas implementadas. Lavoie ganhou visibilidade em todos os níveis da
empresa e garantiu que a travessia da crise pela EMC fosse uma iniciativa com a
participação de todos, e não uma ordem disparada lá do alto.
O leitor também pode usar sua rede para testar propostas e
estratégias, dentro e fora da organização. Sugira uma ideia e veja quanta gente
a “curte”. Ou dirija certos grupos de pessoas a uma sondagem online. O feedback
pode ajudá-lo a convencer um chefe ou cliente relutante a aceitar seu ponto de
vista. Esses métodos de exploração de fortes redes virtuais são só o começo.
Agora, começam a surgir novas técnicas, como fazer seus contatos na rede
tomarem parte de “games” empresariais, para que entrem em ação para você ou
para sua empresa.
Em breve, esperamos, organizações vão começar a buscar
funcionários com redes de contatos comprovadamente fortes na web e o histórico
de exercer influência por meio delas. Os mais hábeis nesse quesito serão ainda
mais valorizados.
Thomas H. Davenport é titular da cátedra President’s
Distinguished Professor of Information Technology and Management na Babson
College, nos EUA, e consultor sênior da Deloitte Analytics. Bala Iyer é
professor associado de gestão da tecnologia da informação na Babson.
Fonte: www.hbrbr.com.br
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