Por Alex Anton,
“Mais do que educação, mais do que experiência, mais do que
treinamentos, o nível de resiliência de um indivíduo determinará quem terá
sucesso e quem se perderá pelo caminho. Isso é verdade para pacientes com
câncer, é verdade para atletas olímpicos, e é verdade para executivos e
empreendedores na sala de reunião”, afirma Dean Becker num artigo de 2002 da
Harvard Business Review. Resiliência, portanto, é a habilidade de controlar sua
resposta a situações física ou mentalmente estressantes. A ciência mostra que
quanto mais resiliente o indivíduo é mais longe ele irá na sua vida pessoal e
profissional. Faz sentido. Sucesso é a o reflexo de inúmeras quedas e derrotas
que foram encaradas como oportunidades de aprendizado e crescimento.
Na minha experiência convivendo e trabalhando com indivíduos
extremamente talentosos – em Harvard, na Nestlé, na McKinsey, na Fullbridge e
pelo mundo – fica claro que os mais interessantes são aqueles que passaram por
adversidades as vezes pesadas e tiveram força para se reerguer ainda maiores.
Eles tem uma energia interna contagiante, empatia e humanidade ao mesmo tempo
que demonstram força e determinação certeira. Exemplo? Liz Kwo, minha colega e
co-coach no programa que recentemente concluímos em Shanghai pela Fullbridge:
nascida em Taipei de mãe solteira, pobre, imigrou ilegalmente aos Estados
Unidos com a mãe e a irmã quando ainda bebê. Em San Francisco, onde chegaram de
navio, moravam numa garagem enquanto a mãe suava em empregos simples para
trazer comida pra “casa”.
Ela tinha tudo pra dar errado na vida, mas hoje suas
paredes ilustram diplomas da Stanford, Harvard Medical School e Harvard
Business School, simplesmente as melhores instituições de educação do mundo.
Como? Porque ela sabia que sua única chance seria através da educação e mérito,
o qual ela demonstrou sempre sendo a aluna mais engajada, curiosa e
determinada. Escutando ela falar fica claro que sua jornada não foi fácil ou
romântica, mas ela diz “toda vez que eu me sentia como uma perdedora, alguém
marcado para falir, viver na pobreza e ser uma vítima de um mundo injusto e
cruel eu fechava os olhos e lembrava que o esforço da minha mãe tinha que valer
a pena, e aí eu liberava a fera dentro de mim”. É inspirador escutar isso dela,
ainda mais porque suas palavras saem sem dor ou rancor; ela conta sua história
com orgulho, suavidade, humanidade ilustrada com vulnerabilidade e determinação
para continuar em frente.
Claramente, o indivíduo resiliente não é aquele que evita
stress de toda e qualquer forma, mas sim aquele que aprende como controlá-lo e
transformá-lo em energia produtiva. A pessoa resiliente provavelmente
entortará, mas não quebrará, quando confrontada com adversidade, traumas,
tragédias e ameaças. Ela é, na maior parte do tempo, ativa e não passiva em relação
ao o que acontece a seu redor e em sua vida, sempre acreditando ser autora do
seu presente e futuro, e não uma vítima do seu passado.
Bom, mas felizmente muitos de nós não passaram por situações
dramaticamente impactantes que balancem nossos valores e nos façam questionar
nossa missão no mundo, o que frequentemente se ouve de gente extremamente
resiliente (já ouviu a história de alguém que sobreviveu um grave acidente ou
doença?). Então, o que fazer se sua vida é confortável e relativamente linear?
Os cientistas Steven Southwick e Dennis Charney, da Yale University School of
Medicine, recomendam 4 estratégias comprovadas cientificamente para dar um
boost em sua resiliência:
Trabalhe com seu físico: fisiologicamente, atividade física
moderada promove a liberação de endorfina e dos neurotransmissores dopamina e
serotonina, os quais reduzem sintomas de depressão e melhoram o humor. Um
experimento com animais mostrou que correr frequentemente diminui fobias
diversas e aumenta a coragem para exploração de novos ambientes. O recomendado
é uma hora e 15 minutos por semana de atividade aeróbica intensa como corrida e
natação, ou duas horas e 30 minutos de atividades moderadas como caminhada, por
exemplo.
Aceite desafios e saia da zona de conforto: dar uma passo
além do que você normalmente faria, seja nas férias, no final de semana, ou no
trabalho, estica sua zona de conforto e potencialmente aumenta sua segurança.
Não há limites e cada um sabe o que isso significa para si, mas pode ser vencer
um medo, fazer uma apresentação num idioma novo, explorar um outro país com
poucos recursos e infraestrutura, ou começar a dizer não ao invés de sempre se
moldar para agradar os outros.
Medite, e desenvolva uma visão positiva do mundo: meditar
frequentemente pode lhe trazer clareza, foco e facilitar a priorização de onde
investir sua energia. Meditar lhe conecta com o presente, evitando lamentações
sobre o passado e preocupações excessivas com o futuro. Isso comprovadamente
reduz o stress e lhe permite maior controle sobre sua vida e decisões, lhe
tornando uma pessoa mais segura e determinada.
Amigos & relações humanas: finalmente, a última tática
para aumentar resiliência o estimula a passar mais tempo com pessoas com as
quais você demonstra aceitação, respeito e admiração mútua. Só funciona, no
entanto, se você estiver realmente conectado aquela pessoa e poder contar com
ela para conselhos, dicas ou apenas um ombro amigo. Ajuda se sua network for
recheada de indivíduos que são exemplos de resiliência em pessoa, pois você
terá role models a observar e seguir. Imitar comportamentos e práticas que
deixam os outros mais fortes também pode ser de alto valor. Por exemplo, quando
estiver desanimado e pronto pra desistir vale lembrar que existe uma “fera”
dentro de cada um de nós, como diria minha colega Liz.
Finalmente, escrever sua história ciente de que você é autor
e protagonista, de que você decide gastar mais tempo comemorando pequenas
vitórias do que lamentando sobre como o mundo é injusto com você, aumenta sua
motivação, determinação, produtividade e, ultimamente, felicidade. É por isso
que as universidades e empresas mais concorridas do mundo esperam escutar
histórias de superação e resiliência em seus processos seletivos. Dado tudo
isso, eu pergunto a você, leitor, e também a mim mesmo: qual o próximo
capítulo?
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