domingo, 9 de junho de 2013

Em alta: Gerente de Projetos ganha de R$ 12 mil a R$ 20 mil

Um gestor de projetos é diferente de qualquer outro. Afinal, ele precisa estar sempre adiantado e prevendo situações, enquanto o gerente tradicional tem de dispensar atenção maior ao “aqui e agora”. 

Além disso, para entregar um projeto com qualidade, no prazo prometido e sem estourar o orçamento — apontado como o maior desafio da carreira — é preciso pensar em pelo menos nove dimensões, como as de estrutura financeira, gestão de pessoas e avaliação de riscos.

Esse é o perfil da carreira de gerenciamento de projetos, que não para de ganhar projeção no país. A demanda por esse profissional vem se acentuando tanto que já se reflete na busca pelos cursos de MBA na área: tanto na Fundação Getúlio Vargas quanto no Ibmec, é a qualificação mais procurada.

— Há cerca de cinco anos, o curso mais procurado era o de gestão de negócios. Hoje, conforme as empresas trabalham mais de forma projetizada, isso está mudando — destaca Fernando Filardi, professor do Ibmec.

Segundo pesquisa feita pela Michael Page, um gerente de projetos pode ganhar, em média, de R$ 12 mil a R$ 20 mil por mês.

— Mas os valores podem chegar a mais do que isso, dependendo da área de atuação e do tamanho do empreendimento em questão — ressalta André Barcaui, PhD e coordenador do MBA sobre gerenciamento de projetos da FGV.

Em mercados mais maduros, como óleo e gás, engenharia e tecnologia da informação, diz Barcaui, os salários costumam ser mais altos. Já em segmentos que abraçaram o gerenciamento de projetos mais recentemente — Terceiro Setor, esportes, cinema, comunicação e produção de eventos, por exemplo — os ganhos ainda não atingem os mesmos patamares.

— Mas há uma tendência de equalização. O salário está em fase de crescimento, porque a demanda está crescendo e os profissionais estão se qualificando — acentua Barcaui.

Possibilidade de atuar em vários segmentos
Foi de olho nesse panorama que o profissional de TI Sergio Couto decidiu se inscrever no MBA da FGV, em junho de 2012. Trabalhando numa empresa de sustentabilidade, desde que iniciou o curso ele já pôde ampliar a sua atuação.

— Não fico mais só nos projetos da minha área de especialidade, que é TI. Já comecei a fazer projetos estratégicos da empresa — conta Couto. — Era isso que buscava: ampliar o leque.

A possibilidade de conhecer diferentes áreas, aliás, é o que muitos gestores apontam como sendo um dos principais atrativos da carreira. Sandra Freitas, que é gerente de projetos, business systems & consulting na consultoria CGI, relata que, nos últimos seis anos, trabalhou com distribuidoras, companhias de energia elétrica, mercado financeiro, entre outros setores:

— Atuar em negócios que não conheço me dá motivação para me manter nesse ramo.
Victor Gialluise, superintendente de Projetos na Mongeral Aegon desde 2007, diz que o que a atrai principalmente na carreira é a possibilidade de assumir mais responsabilidades.

— Antes, eu me preocupava somente com o produto. Agora, preciso pensar mais no escopo, na gestão dos recursos humanos do projeto, nos riscos, entre outros aspectos.

Gialluise e Couto, aliás, fazem parte de uma nova leva de profissionais que ainda não têm uma certificação (como PMI, PMP, CAPM, IPMA, entre outras). Especialistas dizem que quando a carreira de gestor de projetos chegou ao Brasil, há cerca de dez anos, houve uma explosão de procura por esses tipos de diplomas. Hoje, eles não são mais pré-requisitos. Agora, o mercado pede visão geral.

— Estão sobrando certificados, mas falta gente com o entendimento real do seu papel. Não basta a qualificação técnica — destaca Nubia Correia, diretora executiva de consultoria, que comanda uma equipe de gerentes de projetos na Ernst & Young, acrescentando que esses profissionais, acima de tudo, precisam saber se relacionar. — Pesquisas apontam que o papel de um gerente de projetos está ligado de 80% a 90% do tempo à comunicação.

Na Wärtsilä, fornecedora de motores e serviços para navios e usinas termelétricas, há cerca de dez engenheiros fazendo o curso para tirar uma certificação PMO em gerenciamento de projetos.
— São pessoas que estão capacitadas, mas não certificadas. A certificação economiza etapas e mostra que o profissional domina os procedimentos formais. Pro mercado pode ser importante, mas, para o cliente, não é — opina George Wootton, gerente responsável pela área de elétrica e automação da empresa. — Mas existem muitas pessoas que não têm a certificação formal, mas são ótimos gerentes de projeto.

Nubia Correia, da Ernst & Young, lista como algumas características que um bom profissional da área deve ter, além da capacidade de comunicação, a habilidade de se relacionar com todos os stakeholders, reunir e comandar uma equipe, ser disciplinado e organizado, ter visão holística e saber gerir conflitos e conduzir uma negociação:

— Se ele não tiver isso, por mais que seja certificado e entenda as ferramentas do mercado, provavelmente terá dificuldade para assumir o seu papel.

Como é possível, então, aprimorar essas habilidades e não investir apenas na qualificação técnica? Além de adquirir experiência atuando na área, dizem os especialistas, uma opção pode ser passar por um processo de aconselhamento — coaching — que é oferecido por algumas empresas a seus profissionais. Investir em uma pós-graduação, antes mesmo de tentar tirar a certificação, também é recomendado.

Oportunidades especialmente no Rio
— Um curso de pós-graduação ou MBA também trabalha a parte emocional, aborda questões de liderança, tomada de decisão, habilidades de comunicação, ensina a se portar diante de situações distintas — diz o professor André Barcaui, da FGV. — Mas é realmente só trabalhando que se aprende a lidar com pessoas.

Barcaui lembra que a atuação em gerenciamento de projetos requer atualização constante, o que a carreira possibilita a quem estiver interessado:

— É uma área muito rica, na qual acontecem feiras e simpósios, nacionais e internacionais. É importante ficar ligado para se manter atualizado.

Até porque, especialmente no Rio de Janeiro, continuarão surgindo oportunidades para gerentes de projetos. O Comitê Rio 2016, por exemplo, está com vagas abertas para especialista em projetos, analista de projetos plenos, especialista em monitoramento de projetos, coordenação de projetos e instalações — e foi relatada uma dificuldade para conseguir preencher essas posições com gente qualificada.

— Não só Olimpíadas, mas também Copa do Mundo, Porto Maravilha, e todas as outras obras urbanísticas que estão sendo realizadas são projetizadas — destaca Fernando Filardi, do Ibmec.

O professor diz que, além dos grandes eventos, a tendência é que todas as empresas passem a operar dessa forma dentro de algum tempo — especialmente com a chegada de multinacionais e de expatriados ao Brasil, que já desembarcam com essa mentalidade.

— Trabalhando de forma projetizada, é mais fácil ter controle e saber se houve lucro ou não ao fim de um processo, por exemplo. Esse é o caminho.

— O setor vai continuar abrindo cada vez mais vagas, tanto no setor privado quanto no público — conclui Nubia.

Fonte: Matéria original publicada no site do O Globo.

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